Você leu uma parte do conto "A Pedra Teresa". Quer conhecê-lo na íntegra?...Então, lá vai...
Ninguém segura essa menina. Teresa fez seis anos e encasquetou que quer entender o mundo.
Já vestiu a cueca do irmão, pra saber como é ser menino. Já virou bicho, pra surpresa do cachorro Ovídio. E já foi planta, enfiada por uma tarde num buraco do jardim.
Hoje ela decretou feriado e resolveu investigar o reino dos minerais.
"Pra entender eu preciso ser", disse ela. E saiu rumo ao barranco da pracinha, disposta a se fazer de pedra.
Calcário, ametista ou turmalina? Cristal, granito ou piroclasto? Xisto verde, carvão ou pérola? Ardósia, mármore ou varvito? Com tantos tipos, em qual pedra ela vai se transformar?
Ametista
Turmalina
Teresa Mineral deitou-se sobre a grama, perto do barranco. E ficou lá, encolhida, absolutamente parada. Fechou os olhos, deixou de pensar e só respirava o necessário.
Pra não fazer nada é preciso muita concentração. Experimenta ficar um minuto sem se mexer. Agora imagine ficar assim por mais de um milhão de anos. E sem reclamar.
Pedra tem a vantagem de nunca morrer. Só o que faz é esfarelar. Por isso dura tanto, desde que o mundo existe.
A Pedra Teresa já estava ali na beira do barranco, encolhida, há uns dez minutos. Foi quando sentiu uma vontade louca de espirrar. E toda criança sabe que pedra jamais espirra. E sabe também que uma das coisas mais difíceis do universo é segurar um espirro. Teresa tentou prender o ar, mexeu o nariz, revirou os olhos, mas... Atchiiiiiiiiim...
Lá se foi ela, rolando pelo barranco.
Só parou quando bateu num banco da pracinha.
Doeu, claro. Se fosse pedra de verdade, talvez ela nem sentisse. Dizem que os minerais não sentem nada: nem dor, nem saudade, nem amor.
Teresa deu de pensar enquanto soprava o machucado. Concluiu que vida de pedra é dureza. E que ela estava muito feliz por ser gente, mesmo esfolada.
Amanhã, quando a ferida formar casquinha, aposto que ela vai continuar querendo. Querendo entender essa coisa gigante e misteriosa que é o mundo em que vivemos.
Marcelo Romagnoli criou as histórias da menina Teresa, que estreou numa peça de teatro e agora ganha uma série na Folhinha. Ele é ator, dramaturgo e diretor de peças premiadas como "Felizardo" e "Sapecado", ambas encenadas com a Banda Mirim.
Aline Abreu fez as ilustrações de Teresa. Ela é autora e ilustradora de livros como "Mamãe Sabe Quase Tudo", "Papai É Quase um Herói" e "Cada Família É de um Jeito", da editora DCL. O site dela é http://www.alineabreu.com.br/.
Fonte: FOLHINHA, 13/03/2010
Acesso em: 24/03/2011
4 comentários:
Eu gostei muito da historia é muito engraçada.
Giuliana 5ºano A(:
Eu gostei dessa história por que a menina aprende a gostar de ser humana (si mesma)
Beijos Carol Silva 5ano A
Ai Verô ,fiquei curiosa para saber o fim da historia e vim direto para o blog...
Obrigada!!!
Adorei o livro!
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