quinta-feira, 21 de novembro de 2013

VERIFICAÇÃO DE PORTUGUÊS - CONTO ETIOLÓGICO



A ÁRVORE DE CABEÇA PARA BAIXO
(uma história da Costa do Marfim)


            Nos primórdios da vida, o Criador fez surgir tudo no mundo. Ele criou primeiro o baobá, e só depois continuou a fazer tudo existir.


            Mas ao lado do baobá havia um charco. O criador havia plantado o primogênito bem perto de uma região alagadiça. Sem vento, a superfície daquelas águas ficava lisa como um espelho. O baobá se olhava, então, naquele espelho d’água. Ele se olhava, se olhava e dizia insatisfeito:


            — Por que não sou como aquela outra árvore?


            Ora achava que poderia ter os cabelos mais floridos, as folhas, talvez, um pouco maiores.


            O baobá resolveu, então, se queixar ao Criador, que escutou por uma, duas horas suas reclamações. Entre uma queixa e outra, o Criador comentava:


            — Você é uma árvore bonita. Eu gosto muito de você. Me deixe ir, pois preciso continuar o meu trabalho.


            Mas o baobá mostrava outra planta e perguntava: Por que suas flores não eram assim tão cheirosas? E sua casca? Parecia mais a pele enrugada de uma tartaruga. E o Criador insistia:


            — Me deixe ir, você para mim é perfeito. Foi o primeiro a ser criado e, por isso, tem o que há de melhor em toda a criação.


            Mas o baobá implorava:


            — Me melhore aqui, e um pouco mais ali…


            O Criador, que precisava fazer os homens e os outros seres da África, saía andando. E o baobá o seguia onde quer que ele fosse. Andava para lá e para cá. (E é por isso que essa árvore existe por toda a África).


            O baobá não deixava o Criador dormir. Continuava e continuava, e continuava sempre a implorar melhorias.


            Justo a árvore que o criador achava maravilhosa, pois não era parecida com nenhuma outra, nunca ficava satisfeita! Até que, um dia, o Criador foi ficando irritado, mas muito irritado, pois não tinha mais tempo pra nada. Ficou irado mesmo. E aí então se virou para o baobá e disse:


            — Não me amole mais! Não encha mais a minha paciência. Pare de dizer que na sua vida falta isso e aquilo. E cale-se agora.


            Foi então que o Criador agarrou o baobá, arrancou-o do chão e o plantou novamente. Só que dessa vez… foi de ponta cabeça, para que ele ficasse de boca calada.


            Isso explica sua aparência estranha; é como se as raízes ficassem em cima, na copa. Parece uma árvore virada de ponta cabeça!



            Até hoje dizem que os galhos do baobá, voltados para o alto, parecem braços que continuam a se queixar e a implorar melhorias para o Criador. E o Criador, ao olhar para o baobá, enxerga a África.


LIMA, Heloisa Pires. A semente que veio da África. São Paulo: Salamandra, 2005. p. 14-17.


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                                                            GLOSSÁRIO

·         Primórdios: aquilo que é organizado inicialmente.

·         Charco: água parada.

·         Primogênito: que nasceu antes.

·         Alagadiço: o que sempre está alagado, área baixa com água.

·         Irado: enraivecido.

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